quarta-feira, 19 de março de 2008

Teatro e Exposição - Vapor barato

Por
Ferdinando Martins
14.03.08


Impossível ler Vapor barato, de José Valdemar de Oliveira, e não pensar nos efeitos da globalização. Nascido na paradisíaca Maragogi, litoral de Alagoas, poderia se esperar uma literatura regional, que tratasse do nordestino e suas tradições. Nada disso, porém, aparece nos nove contos do livro. Ao contrário, são história que mesclam ambientes noturnos das grandes cidades, undergrounds, inferninhos e outras baladas mais ou menos glamourosas.

Nas histórias, michês, prostitutas e outros notívagos buscam satisfação imediata e felicidade instantânea, seja com o consumo de drogas, seja dançando loucamente. Tentam romper com o passado, com a família, com a tradição, mas só encontram solidão e desconforto.

Na verdade, a impressão que se tem é a de uma modernidade empoeirada, algo como a roupa futurista de Barbarella ou desenhos antigos de ficção científica. Assim, cabelos coloridos, tatuagens e piercings surgem como símbolos de moda e vanguarda, mas será que não há nada de mais novo? Veja, por exemplo, o trecho do conto de abertura, Tão sexy gay: "Calça sandálias salto 15 na mesma cor da roupa, ajeita o piercing que tem no nariz, orna-se de brincos, colares e pulseiras (...) mergulha nos labirintos da noite com a alma borbulhante, flutuando por ruas, esquinas, bares, boates, motéis. Na cabeça, músicas frenéticas tocando o tempo inteiro".

Os personagens confundem conceitos, deslocam-se ambíguos entre o masculino e o feminino, o homo e o heterossexual: "Júnior, o JR, como chamávamos, parou com suas constantes crises de identidade sexual. Uma coisa ambigüidade. Curto chupadinha, comer um cuzinho, mas não sou gay".

A desesperança dá o tom e a perda de referência – de moda, de gerações, de comportamento – refletem caminhos desconexos. E uma leitura triste e frenética, mas, certamente, verdadeira.

Vapor barato.
José Valdemar de Oliveira.
7 Letras.
139 páginas.