Cultura - Literatura Leia um livroUrbanos ou não, jovens transgressores inspiram contos
Por William Magalhães 13/8/2007
É gostoso ler Vapor Barato, o primeiro livro publicado do escritor alagoano José Valdemar de Oliveira. Publicado em fevereiro deste ano pela editora 7letras, o livro foi selecionado para concorrer na fase inicial do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, um dos mais importantes do gênero e que atualmente tem entre seus indicados Santiago Nazarian e Daniel Galera. Este segundo é autor de “Até o dia em que o cão morreu”, que deu origem ao filme Cão Sem Dono.Voltando ao vap, ops, livro, o leitor encontrará nove contos cheios de sentimentos e sensações. Dá a impressão de estar na pele dos personagens e saber ou tentar saber suas próximas falas e/ou pensamentos. É um livro que provoca, meche com valores e conceitos e, por que não?, pré-conceitos.De leitura rápida e linguagem ágil o livro abre com Tão Sexy Gay que inicia assim: “As noites de sábado foram feitas pra transgredir os limites estabelecidos”. E da mesma forma que Gilda, a protagonista-perua do conto, transgride os limites estabelecidos da noite e vai para baladas e raves se dividindo em mil amores e ressacas, José Valdemar transgride também alguns limites, surpreendendo o leitor com histórias imprevisíveis.Todos os contos são bons, claro que uma pessoa pode gostar mais de um que de outro, entre os meus preferidos está “E o Homem Fez a Mulher (Ou: O Eterno Teatro da Hipocrisia)” na qual um casal, digamos, discute a relação de uma maneira bem inusitada com direito a uma platéia bafônica.Vapor Barato, o conto que dá nome ao livro, fala de como a vida numa cidadezinha muda radicalmente após a chegada de uma visitante revolucionária. Uma turminha de amigos passa a fazer umas festinhas bem estilo comunidade hippie anos 60. Os encontros subversivos do grupo de amigos são responsáveis pelas partes picantes do livro. Cada um dos envolvidos narra a sua visão da história “...ganhou coragem e nos expôs seu desejo fora da lei. Até então, pressionando por um batalhão endemoniado, só saía com garotas. Raramente. Fui seu primeiro cara a foder seu rabo. Curto uma chupadinha, comer um cuzinho, mas não sou gay. Aí não, né?, tinha as meninas também. Boas bocetinhas. (...) Não pretendia magoá-lo por nada neste mundo. Me limitava a sorrir, botar o pau pra fora, ele metia a boca, botava camisinha, se posicionava e eu me enfiava. Pra mim era só isso, curtição sexual com um amigo. Entre os sectários do grupo, ele foi aceito naturalmente, e nunca mais se sentiu rejeitado, um bicho estranho. Que se foda o sistema!”É importante frisar que os contos não são narrativas sexuais, a parte citada acima é só um trecho de um parágrafo. Boa parte não é nem gay, quer dizer, até é, mas todo o contexto homoerótico presente está nas entrelinhas. Sessão da Tarde, o conto que encerra o livro, fala de uma tarde num cinemão. Babado.Tem mais detalhes sobre José Valdemar e seu livro na
5ª edição da revista A Capa. Para acessar o site da editora você pode clicar aqui. No site da Livraria Cultura foi o único lugar em que encontrei o livro, mas confesso, não tive tempo de dar um google. O contato do escritor, a quem interessar possa é jvodede@ig.com.br